8 de maio de 2025

A Sombra Persistente no Poder: O Cargo Intocável e a Ilusão das Bandeiras

Na tapeçaria complexa da nossa política, um fio sombrio teima em não se romper: a persistência de problemas estruturais que transcendem a figura de quem empunha o cetro, seja no palácio federal, no governo estadual ou na prefeitura municipal. A questão crucial que ecoa nos corredores da insatisfação popular não reside em quem ocupa o cargo, mas sim na imutabilidade do próprio cargo, aprisionado em um ciclo vicioso de equívocos repetidos, aclamação acrítica e a blindagem de leis que favorecem invariavelmente os mesmos detentores de poder.

É como se o sistema, qual engrenagem enferrujada, continuasse a girar impulsionado pelos mesmos defeitos, independentemente da mão que a tenta conduzir. A cada nova eleição, a esperança de uma mudança genuína cintila nos discursos e nas promessas de campanha. No entanto, ao assumir o poder, o novo ocupante muitas vezes se depara com as amarras de um sistema preexistente, onde os velhos hábitos e as alianças obscuras resistem tenazmente à inovação e à correção de rumos.

Os erros do passado, em vez de lições aprendidas, parecem servir de manual para a inércia. Projetos mal concebidos persistem, a ineficiência administrativa se perpetua e a falta de transparência continua a obscurecer as decisões que impactam diretamente a vida do cidadão. E nesse cenário desolador, ecoa o aplauso ensurdecedor de uma corte de “cegos”, aqueles que, por conveniência, ideologia extremista ou simples falta de senso crítico, preferem ignorar as evidências da disfuncionalidade, perpetuando a ilusão de que tudo está sob controle.

A armadura que protege essa estrutura viciada é forjada em leis que, sob o verniz da legalidade, servem primordialmente aos interesses daqueles que já detêm o poder econômico e político. Brechas jurídicas, regulamentações frouxas e a morosidade da justiça se tornam escudos impenetráveis contra qualquer tentativa de responsabilização ou de mudança profunda. Os “donos do jogo”, aqueles que orquestram os bastidores da política e da economia, permanecem intocáveis, observando com cínico deleite a dança das cadeiras no poder.

Enquanto isso, a população, exausta e muitas vezes desiludida, se perde em discussões apaixonadas sobre bandeiras ideológicas, alimentando a polarização que serve como cortina de fumaça para a manutenção do status quo. A disputa entre “esquerda” e “direita”, entre “o novo” e “o velho”, absorve a energia do debate público, desviando o foco da questão central: a necessidade urgente de reformar as estruturas que perpetuam a desigualdade e a ineficiência, independentemente da cor partidária de quem estiver no comando.

É tempo de despertar para a armadilha das narrativas superficiais e direcionar o olhar para as fundações carcomidas do sistema. A verdadeira mudança não virá da simples substituição de nomes nos cargos de poder, mas sim de uma pressão constante e organizada da sociedade civil para a revisão das leis, para a exigência de transparência e para o fim da impunidade que protegem os “donos do jogo”. Enquanto o povo se contentar em discutir bandeiras, a sombra persistente do poder continuará a pairar, perpetuando os mesmos erros e mantendo intocável a engrenagem viciada que dita os rumos da nossa nação.

About The Author

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *